Oi.  Eu sou Clarice Blankenburg, psicóloga e esse é o quarto e último vídeo sobre a vida e os papéis que as mulheres exercem nessa nossa sociedade maluca.

Eu intitulei esse vídeo como “A mulher e a sociedade”, amplo assim,  pra conseguir fazer um apanhado de várias coisinhas e coisonas  que tradicionalmente são colocadas como: “O que é ser uma mulher”.  Olha, sendo bem sincera, eu tive dificuldade de por onde começar. Porque vem muita coisa na minha cabeça. Mas, vamos começar do começo.  Uma menina nasce…  …e aí vem:  “Cadê o lacinho?  E o brinco? Como é que a gente vai saber que é uma menina?”  “Vestidos”, “Calcinha”, “Senta direito”, “Fecha as pernas”, “Não fale isso”, por aí vai.

Todos nós, incluindo os homens, passamos por algum molde durante o nosso desenvolvimento.  E muitas vezes é repressivo.  No caso das mulheres têm muito disso.  E eu não posso deixar de destacar a repressão sexual. Vejam só, a sexualidade feminina, ela é levantada muito antes da menina sequer ter capacidade psíquica pra absorver, pra lidar com esse assunto.  E segue como referência de comportamento pelo resto da vida.  Basta a gente pensar que as ofensas, os xingamentos femininos são em sua maioria esmagadora sobre uma suposta vida sexual.  Em nenhum momento da vida de uma mulher ela é encorajada a descobrir seu corpo, a conhecer o prazer sexual.  Nem mesmo no momento de engravidar.  Na verdade, muitas vezes não é falado nada sobre isso, como se todas nós fôssemos virgens Marias. Mas isso se você estiver engravidando dentro de um casamento.  Porque se for assim “do nada” tá mais pra Madalena.

Meu povo, o orgasmo feminino foi comprovado cientificamente um dia desses, por assim dizer.  E olhe que ele pode ser mais duradouro, pode ser múltiplo e mesmo assim, ainda hoje, tem gente que trata com a mesma descrença de discussões como a terra ser redonda ou plana.  E dentro da sexualidade temos as invasões.  E vejam que o problema é muito mais fundo, gente.  Porque a gente tem uma visão completamente distorcida de que devemos ensinar as meninas a se protegerem a se defenderem e não os meninos a respeitá-las.

Eu lembro perfeitamente, na minha infância, de me defender dizendo:  “Calcinha é pano, besta quem tá olhando.”, pra poder brincar no escorrego de vestido sem ligar pra nada.  Mas veja que eu fui muito audaciosa em confiar numa rima espevitada pra me defender.  Porque pra ficar segura mesmo eu deveria ter aberto mão da diversão no brinquedo.  E é nesse tipo de raciocínio que entra o:  “Mas o que que ela estava vestindo?”  “O que que ela estava fazendo na rua a essa hora?”  Ou coisas mais sutis ainda.  De… “Se ela não queria por que ela ficou dançando perto?”  Aparentemente, dizer “não” não é suficiente.

E existe uma passada de pano forte quando a gente fala sobre responsabilidade versus idade, entre gêneros.  A gente cobra das meninas uma responsabilidade muito grande.  “Que ela sabe o que ela está fazendo.”  Enquanto isso a gente fica chamando de moleque homens de mais de 50 anos.  Eu tenho um exemplo que sempre me deixa meio desesperada toda vez que eu penso.  E eu queria que você parasse um pouco pra lembrar se você já viu isso, se você já pensou assim.  Um homem faz algo errado.  Algo ruim.  Mas ele está bêbado.  E aí a gente pensa:  “Não, mas ele fez isso porque ele estava alterado.  Ele não é essa pessoa.  Vamos deixar ele ficar sóbrio.  Vamos ver o que aconteceu.”  A gente inocenta ele.  Mas se uma mulher, mesmo em posição de estar sofrendo algo ruim, estiver bêbada a gente culpabiliza.  “Porque ela se colocou nessa situação.  Ela sabia onde ela estava indo.  Ela sabia que isso poderia acontecer.  Ela bebeu porque quis.”  Como é que pode isso, gente? Se ao serem vítimas são culpadas. Quando as mulheres vão pra cima mesmo, são desacreditadas. São loucas, dramáticas, exageradas, histéricas.

O que me chama bastante atenção é que ainda existem muitos homens definindo, decidindo a vida das mulheres. São juízes, formadores de leis, propagandas. Gente, vocês já perceberam que em propaganda de absorvente o sangue é azul? Vamos naturalizar essa menstruação, gente.  Ela está aí todo mês.  Já deu.  Estamos, desesperadamente, precisando de mulheres nesses lugares de poder. Pra realmente nos representar e de quebra reforçar algo muito importante que é a nossa união.  A rivalidade feminina é algo que vêm sendo estruturado há muito tempo.  Sororidade não é apenas uma palavra bonita é necessária.  A gente precisa se apoiar, se…  julgar menos.  E entender, de uma vez por todas, que mulher empoderada é aquela que se conhece e que decide, escolhe ser quem quiser de acordo com os seus próprios valores.  Vamos juntas.

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