Oi, eu sou Clarice Blankenburg, psicóloga.  E esse é o terceiro, de quatro vídeos, sobre a vida e os papéis das mulheres nessa nossa sociedade maluca.

Hoje o foco é a vida profissional das mulheres. Provavelmente o lugar com mais barreiras de toda a nossa história.  Gente, o negócio é que as mulheres não podiam trabalhar fora de casa.  Entendem o que eu quero dizer?  O começo da história da Mulher dentro do mercado de trabalho já é esse.  O ponto de partida é esse.  Não poder.  Até que, eventualmente, com as grandes guerras faltou gente para trabalhar.  Os homens estavam lá se matando e as coisas estavam paradas. Então…  “manda ‘ar mulhé’ aqui pra substituir galera”.  E elas vieram.  Se adaptaram, aprenderam as funções, os serviços.  Deram conta.  Aí, as guerras acabaram.  Os homens voltaram e…  “Tira ‘ar mulhé’ de novo galera, que lugar de mulher é em casa.” Eu imagino que várias dessas mulheres se sentiram aliviadas de poder voltar pra casa, pro seu lugar conhecido, confortável.  Mas o fato é que não foram todas.  Senão eu nem estaria aqui, fazendo esse vídeo como expressão do meu trabalho.

Muito que bem.  Então, algumas delas insistiram E, eventualmente, alguns trabalhos foram caracterizados femininos.  Invariavelmente de hierarquia baixa. Aparentemente dar poder a uma mulher era absurdo. Bom. Nesse cenário onde as mulheres estavam sempre em funções de menor poder, logo a gente esbarra no abuso de poder. E isso pode acontecer de várias formas. Com imposições desnecessárias, humilhações e o assédio. É muito triste e vergonhoso saber que até hoje muitas mulheres são assediadas no seu ambiente de trabalho.  Pior é entender que existe uma dificuldade de discernir o que vem a ser assédio ou não.

Gente, tem muita… muita coisa que nós fomos (todos nós) orientados a tratar como normal.  É o que a gente chama de preconceito estrutural.  A coisa vai acontecendo por tanto tempo que a gente naturaliza.  Mesmo que seja algo que machuque ou invada alguém.  E faz com que a gente chegue nesse ponto de, por exemplo, não saber se um elogio é realmente um elogio ou se causa constrangimento e desconforto. Infelizmente isso nem é exclusividade masculina. Existem mulheres que não conseguem discernir se aquilo deveria ter sido dito ou feito.

Bom, o que eu sei é que relacionado a essa questão do assédio é muito comum que a beleza seja um critério muito importante na contratação de uma mulher. E de novo eu estou usando o presente porque, não, não ficou lá atrás a história das secretárias sendo escolhidas a dedo. Aliás, esse raciocínio de que a beleza poderia ser o fator mais importante ajudou a construir um dos estereótipos mais fortes sobre as mulheres a relação entre beleza e burrice.  Na verdade verdadeira, você ser considerada feia pelos padrões, também não vai garantir, de forma alguma você ser mais respeitada ou ter seus pensamentos ouvidos com mais atenção.  Não.  Mas esse pressuposto de que a mulher é burra gera várias situações completamente desnecessárias.  É muito comum, quando uma mulher não concorda com algo ser confundido com ela não ter entendido.  E aí lá vem…  Mansplaining.  Esse é um termo usado pra falar sobre aquelas explicações que os homens às vezes dão para as mulheres como se ela fosse abestalhada.  Sabe?

Ai gente, eu acho muito interessante como é que chegaram nesse termo.  Ele foi inspirado em um ensaio chamado “Os homens explicam coisas para mim” de uma autora americana chamada Rebecca Solnit.  Ela conta que ela tava lá de boa numa festinha e aí chega um cara aleatório pra conversar com ela, porque ficou sabendo que ela tinha escrito alguns livros.  E aí conversa vai, conversa vem eles chegam no assunto do último livro dela.  Mas antes que ela sequer abra a boca ele fez o que?  Interrompeu ela, começou uma grande explicação sobre o assunto e, para usar como referência questionou se ela tinha ouvido falar sobre um importante livro que tinha acabado de sair sobre o tema, que era o livro dela.

Outra coisa muito comum que acontece num ambiente principalmente quando é tradicionalmente masculino é a ideia ou a opinião de uma mulher não ser considerada até que seja validada por um homem.  E isso acontece…  muito naturalmente. Muito naturalmente mesmo.  É tipo…  Tá lá na mesa de reunião e a mulher fala:  “O céu é azul.”  E aí…  não é nem ouvida. Nem ouvida mesmo. E aí minutos depois um cara fala: “Rapaz…  …o céu…  …o céu é azul!”  “Mininu!” Pegue palmas. O Tocantins inteiro pra ele.  Êêêê!

Pra esse vídeo não ficar imeeenso eu não vou entrar aqui na questão da desigualdade salarial entre gêneros exercendo as mesmas funções.  Mas tá aqui citado pra ninguém esquecer que ele existe.

Eu quero trazer aqui um outro fator que influencia diretamente a vida profissional de uma mulher.  Que é a vida pessoal dela.  O fato da mulher ter saído de casa pra trabalhar fora não significa que as tarefas atribuídas a ela no lar estão sendo feitas por outras pessoas.  Eu bati um pouco nessa tecla no último vídeo.  Sobre como existem muitas mulheres que não querem, não se identificam e nem têm habilidades pra estar no lugar de cuidadora.  Mas aqui eu preciso ir um pouquinho mais além.  Mesmo que você ame esse lugar.  Seja maravilhosa nele.  É impossível dar conta de tudo perfeitamente.

É preciso muito bom senso e autocuidado, mulher.  Com você!  Pra você saber escolher bem as suas tarefas.  Saber delegar, colocar limites, administrar a sua energia.  Porque, se não, você vai ser engolida por tudo isso.  E você já sabe.  Se conheça.  Conheça bem seus recursos.  Principalmente suas armadilhas.  Você não precisa escolher entre trabalho e família, mas vá com consciência…  …de si…  …e do mundo.

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